19 novembro

Para comemorar o Dia da Consciência Negra, o Programa Institucional de Extensão Ações Afirmativas e Relações Étnico-Raciais, convida todos vocês para o um passeio no tempo. Queremos conhecer um pouco mais sobre a história de negros e negras que atuaram em diversos setores da vida pública no Brasil, em diferentes períodos de nosso passado .

 

 

 ZumbiZUMBI DOS PALMARES (Serra da Barriga, 1655 – Serra Dois Irmãos, 20 de novembro de 1695)

Nascido em 1655 (a data é imprecisa), Zumbi é o mais conhecido dos líderes do Quilombo de Palmares, situado na Serra da Barriga, no estado de Alagoas. Batizado como Francisco, ao se integrar à comunidade de Palmares, por volta de seus 15 anos, adotou o nome Zumbi, que significa guerreiro. O quilombo, criado no século 16, chegou a abrigar cerca de 3 mil pessoas até o final do século. Possuía uma organização própria, com um sistema de leis bastante rígido, o que explica em parte o seu papel marcante na resistência negra do período colonial do Brasil. Conta-se que no século 17 era formado por 11 povoados e uma população de aproximadamente 20 mil palmarinos. Na segunda metade do século 17, com a pressão da Coroa Portuguesa para por fim a Palmares, Zumbi comandou as forças de resistência na luta contra as frequentes expedições oficiais dos portugueses, em um confronto que durou perto de 14 anos. No último confronto (o mais violento deles), o Quilombo de Palmares resistiu por 22 dias. Zumbi foi, então, capturado e morto em novembro de 1695, há exatos 320 anos. Após sua morte, seu corpo foi mutilado e sua cabeça foi enviada ao Recife, para ser exposta em praça pública. A data de sua morte foi escolhida para comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, em uma iniciativa dos movimentos negros brasileiros, que buscavam ressignificar a presença dos negros na história do Brasil. Zumbi e o Dia da Consciência Negra, se tornaram, assim, símbolos da luta e da resistência negra, bem como uma referência para a construção de identidade racial positiva.

 

 

Dandara dos Palmares

DANDARA DOS PALMARES (??? – Alagoas, 06 de fevereiro de 1694)

Dandara, cuja data de nascimento não se tem registros, foi a companheira de Zumbi. Viveu junto dele no Quilombo de Palmares até sua morte em 1694. Com ele teve três filhos. Dandara era, também, uma guerreira e dominava as técnicas da capoeira. Junto aos negros e negras daquela comunidade, lutou nas forças de resistência comandadas por seu marido. É descrita como uma heroína entre seu povo e, ainda, como uma importante liderança na luta de Palmares contra a Coroa Portuguesa. Apesar de sua importância, ainda são poucos os estudos realizados sobre ela e sobre seus feitos. Sabe-se, contudo, que foi protagonista na história do quilombo e das mulheres negras. Preferindo morrer a retomar à condição de escrava, Dandara suicidou-se em fevereiro de 1694, jogando-se em um abismo depois de ter sido presa por uma das expedições portuguesas a Palmares.

 

 

Euclásio_Ventura_-_Retrato_de_Aleijadinho,_séc._XIXANTÔNIO FRANCISCO LISBOA, O ALEIJADINHO – (Ouro Preto, 29 de agosto de 1730 – Ouro Preto, 18 de novembro de 1814)

Aleijadinho nasceu na antiga cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto. Era filho de uma escrava com um mestre de obras e entalhador português. Considerado um dos maiores expoentes da Arte Barroca, o artista se dedicou, especialmente, à escultura e à arquitetura. Seus trabalhos têm como matéria-prima a madeira e a pedra-sabão, que é um material de origem brasileira. Suas obras são encontradas em muitas igrejas e altares do interior de Minas Gerais, sobretudo na região em que nasceu. Com cerca de 40 anos de idade foi acometido por uma doença degenerativa, possivelmente hanseníase (lepra), mas há especulações de que poderia se tratar de uma doença reumática. A doença foi paulatinamente restringindo sua capacidade de trabalhar e, aos poucos, ele foi perdendo os movimentos das mãos. Em seu grande esforço, já com suas ferramentas sendo atadas às mãos com o auxílio de um ajudante, Aleijadinho foi capaz de produzir sua obra mais conhecida: o conjunto de esculturas Os Passos da Paixão e os Doze Profetas. As esculturas estão situadas no Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, na cidade de Congonhas do Campo – MG. Todo o conjunto foi tombado em 1939 como patrimônio histórico nacional pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Cultura e a Ciência) em 1985.

 

 

Luisa Mahin

LUÍSA MAHIN (Nasceu no início do século 19, por volta de 1812 – sem registros de morte)

As informações sobre o nascimento de Luísa Mahin são imprecisas, mas sabe-se que nasceu no continente Africano, possivelmente na África Ocidental, na Costa da Mina. Acredita-se que pertencia a tribo Mahi (daí seu nome), um grupo étnico nagô, praticante da religião islâmica, sendo muitos deles alfabetizados em árabe. Trazida ao nordeste do Brasil como escrava, Luísa Mahin teve papel importante na Revolta dos Malês, ocorrida em 1835 na cidade de Salvador. Considerada uma mulher inteligente e rebelde, Mahin distribuía mensagens escritas em árabe ao revoltosos do grupo, utilizando seu trabalho na venda de quitutes (que ela mesma fazia) como disfarce. Perseguida pela violenta repressão do Governo da Província, teve que fugir da Bahia, se refugiando na Corte, a cidade do Rio de Janeiro. É provável que, nesse período, tenha sido encontrada e exilada do Brasil. De seu relacionamento com um fidalgo português teve um filho: o abolicionista Luís Gama. Gama relatou, em uma carta ao amigo Lúcio de Mendonça, ter procurado a mãe no Rio de Janeiro por três vezes entre os anos de 1847 e 1861, tendo sido informado por negros que a conheciam, em 1862, de sua prisão e desaparecimento. Acredita-se que tenha sido exilada, sendo enviada à Angola.

 

 

Luís Gonzaga Pinto da Gama

LUÍS GAMA – (Salvador , 21 de junho de 1830 – São Paulo, 24 de agosto de 1882)

O baiano abolicionista Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu na primeira metade do século 19 e teve uma história de vida bastante peculiar. Filho de uma negra livre, praticante do islamismo, e um fidalgo branco, de origem portuguesa, Gama nasceu também livre. Sua mãe esteve envolvida com uma das mais importantes rebeliões negras do Brasil: a Revolta dos Malês. Perseguida pelos governantes da época teve que se refugiar no Rio de Janeiro, deixando-o aos cuidados do pai. Seu pai, um adepto da boa vida e da jogatina, vendeu-o como escravo em 1840, quando ele tinha apenas 10 anos, a fim de pagar um dívida de jogo. Gama foi, então, levado ao Rio de Janeiro e permaneceu analfabeto até os 17 anos. Alfabetizado, nessa época, por um jovem hóspede de seu “dono” e sabendo da ilegalidade de sua condição, uma vez que havia nascido livre, ama fugiu para São Paulo, ao completar 18 anos, onde conseguiu ampliar seus conhecimentos. Autodidata, frequentou o  famoso Curso de Direito do Largo São Francisco (hoje, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP), sendo ostensivamente discriminado por professores e alunos, por ser negro e nordestino. Não tornou-se advogado (apesar de muitos o considerarem assim), mas, por meio de seus conhecimentos jurídicos, conseguiu libertar mais de 500 escravos. Foi também poeta, escritor e orador impecável, tendo se destacado por sua atuação como jornalista e como jurista sem formação. Morreu por complicações da diabetes, seis anos anos antes da promulgação da Lei Áurea, lei pela qual lutou arduamente. Recentemente, sua vida ímpar se tornou alvo de novos estudos e de curiosidade. Em 2015, após 133 anos de sua morte, a OAB (Organização dos Advogados do Brasil) concedeu-lhe o título de advogado, reconhecendo seu brilhante esforço e atuação no campo do direito. Seu tataraneto, um engenheiro e empresário de 68 anos, foi quem recebeu as honrarias. Especula-se que sua história pode se tornar enredo de um filme para o cinema.

 

 

Cruz_e_Sousa

CRUZ E SOUSA – (Nossa Senhora do Desterro, 24 de novembro de 1861 – Curral Novo, 19 de março de 1898)

Nascido na cidade de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, João da Cruz e Sousa era filho de negros ex-escravos, alforriados por seu “senhor”, o coronel Guilherme Xavier de Sousa. Foi criado como filho de criação pelo coronel e sua esposa, que não podiam ter filhos, tendo adotado o sobrenome Sousa. Recebeu educação primorosa, tendo estudado no Ateneu Provincial Catarinense, de 1871 a 1875, onde aprendeu francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. Fundou, em 1881, com os amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornal Colombo, no qual proclamavam adesão ao Parnasianismo. No mesmo ano, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1884, foi nomeado pelo presidente da província de Santa Catarina, Dr. Francisco Luís da Gama Rosa, Promotor de Laguna, função que não pode assumir, pois a nomeação fora impugnada pelos políticos locais. Com Virgílio Várzea, publicou primeiro livro de poemas Tropos e Fantasias, em 1885. Entre os anos de 1887 e 1888 (ano da Abolição da Escravatura), tentou a vida no Rio de Janeiro, mas voltou pouco depois, sem sucesso. Em nova tentativa, em 1889 (ano da Proclamação da República), voltou ao Rio, tendo trabalhado como arquivista na Estrada de Ferro da Central do Brasil e colaborado, ainda, com diversos jornais, se instalando definitivamente. Em fevereiro de 1893, publica o livro Missal (prosa poética baudelairiana) e em agosto, o livro Broquéis (poesia), dando início ao Simbolismo no Brasil. Ainda em 1893, casou-se com Gavita Gonçalves (também negra), com quem teve quatro filhos. Sua morte prematura aos 36 anos, em consequência da tuberculose, levou sua esposa à loucura. Faleceu em Curral Novo, localidade do município de Barbacena – MG, onde havia sido levado para o tratamento da tuberculose. Seu corpo foi despachado para o Rio de Janeiro num vagão de trem para transporte de gado e enterrado no cemitério de São Francisco Xavier. Em novembro de 2007 seus restos mortais foram trasladados para Florianópolis. onde permanecem depositados numa urna exposta à visitação no Museu Histórico de Santa Catarina.

 

 

 

João Cândido Felisberto

JOÃO CÂNDIDO, O ALMIRANTE NEGRO – (Encruzilha do Sul, 24 de junho de 1880 – Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 1969)

João Cândido Felisberto nasceu no Rio Grande do Sul. Era um dos oito filhos de um casal de negros ex-escravos. Aos 13 anos, lutou na Revolução Federalista de 1893. Pouco depois, com o apoio da família, apresentou-se como aprendiz à Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes de Porto Alegre e aos 14 anos se tornou parte do efetivo da Marinha do Brasil, como grumete (ajudante), se mudando para o Rio de Janeiro em 1895.

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