19 outubro

PROJETO DE EXTENSÃO FOCALIZA A AUTOGESTÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS 

 

Da Co-gestão à autogestão: capacitação dos catadores de materiais recicláveis de João Monlevade

 

Coordenador: Bruno Otávio Arantes

Bolsista PAEX: Sâmara Ferreira dos Santos

A atividade de catação de materiais recicláveis é realizada pelas ruas das cidades e nos lixões espalhados pelo país. Segundo o Governo Federal, esses trabalhadores são responsáveis por 99% do material reciclado, em uma cadeia produtiva que movimenta anualmente cerca de 12 bilhões de reais. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE [MMA], 2012). A partir da década de 1990, estes trabalhadores passaram a constituir empreendimentos de economia solidária, caracterizados pela propriedade coletiva dos meios de produção e pela divisão igualitária dos lucros (SINGER, 2003).

A partir dos anos 2000, uma série de ações tem sido desenvolvida pelo Governo Federal, como modificações na legislação (p. ex., obrigatoriedade de implantação de coleta seletiva em órgãos públicos), criação de programas específicos (Cataforte) e aportes financeiros (por meio de empresas estatais, como a Petrobras), buscando a autonomia destes sujeitos e melhoria em suas condições de vida e de trabalho. Atualmente, os catadores tem seu trabalho reconhecido pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2002): família 5192 (Trabalhadores da coleta e seleção de material reciclável).

A despeito destes avanços, ainda permanece uma contradição: apesar de tamanha participação na cadeia produtiva da reciclagem, estes sujeitos possuem rendimentos irrisórios e em alguns casos não alcançam o salário mínimo vigente (CASTILHOS JR, RAMOS, ALVES, FORCELLINI & GRACIOLLI, 2013; SILVA, 2007), sendo a fragilidade organizativa (gestão do empreendimento) um dos principais entraves ao desenvolvimento do trabalho dos catadores.

Desta forma, o objetivo deste projeto de extensão é estimular à autogestão e a gestão da logística de produção da Associação dos Trabalhadores de Limpeza de Materiais Recicláveis de João Monlevade (ATLIMARJOM), aumentando a produtividade e consequentemente, a renda dos catadores.

Para alcançar os objetivos propostos, o projeto prevê uma metodologia participativa e de educação popular que considera a construção do conhecimento a partir da experiência vivenciada pelos catadores. Assim, foram realizadas observações do trabalho para compreender sua realidade de trabalho e a logística interna de produção. Este método tornou possível a verificação das demandas dos próprios trabalhadores e a elaboração de uma primeira versão para o rearranjo da logística interna do galpão onde os catadores realizam suas atividades.

A proposta do layout do galpão foi elaborada por meio do software AutoCaD e exibida aos catadores, que apresentaram suas sugestões. O próximo passo do projeto de extensão é elaborar a versão final para aprovação em assembléia. A partir desta aprovação, os catadores iniciarão o processo de modificação interna, que deverá ser realizada em etapas, para evitar impactos diretos na produção.

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Outra etapa do projeto foi a realização de capacitação sobre saúde e segurança no trabalho, demanda identificada pela equipe de trabalho a partir de relatos sobre cortes e perfurações nos dedos, problemas em utilização de capacetes e luvas.

A atividade foi realizada na Unidade João Monlevade, onde foi possível apresentar aos catadores parte da estrutura da Universidade. Com a mediação da funcionária da FaEnge Andrea Arcanjo de Oliveira Abade, foram apresentados os cursos oferecidos, laboratórios, projetos de pesquisa/extensão e formas de acesso, momento seguido de coffee break. Para a maior parte dos catadores, esse foi o primeiro contato com a Universidade.

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Ao final do projeto, espera-se que estas atividades contribuam para o fortalecimento organizacional, a gestão democrática e a padronização dos processos produtivos e outros aspectos legais que envolvem o universo da reciclagem e do cooperativismo solidário, bem como a socialização dos conhecimentos construídos.

 

Referências:

Castilhos Jr, A. B., Ramos, N. F., Alves, C. M., Forcellini, F. A, & Graciolli, O. D. (2013). Catadores de materiais recicláveis: análise das condições de trabalho e infraestrutura operacional no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 18(11),3115-3124.

Ministério do Meio Ambiente – MMA (2012). Reciclagem atinge somente 8% dos municípios Brasileiros. Disponível em http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/reciclagem-atinge-apenas-8-porcento-dos-municipios-brasileiros. Acesso em 25 de março de 2017

Classificação Brasileira de Ocupações (2002). Disponível em http://www.mtecbo.gov.br. Acesso em 10 de janeiro de 2017.

Singer, P. (2003). Economia solidária. In A. D. Cattani (Org.), A outra economia (pp. 116-125). Porto Alegre: Veraz Editores.

Silva, A. P. (2007). A economia solidária e a qualificação social dos trabalhadores empobrecidos. (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade do Vale dos Sinos, São Leopoldo.

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