À primeira vista, os termos “Economia da Cultura” e “Economia Criativa” parecem se confundir. Neste post tentaremos esclarecer, definir, e exemplificar suas diferenças.
Economia é uma ciência que estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais. Estuda também como a sociedade obtém, administra, modera e utiliza os recursos.
Podemos definir Cultura como tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um grupo que possui uma identidade. A Cultura é capaz de trazer renda para a população e desenvolver de forma sustentável a economia da região. Na maioria das vezes os projetos de cultura e desenvolvimento geram impactos intangíveis que dificilmente são mensuráveis, mas que incidem positivamente a curto e longo prazo. Assim a Economia, durante muito tempo, ignorou este setor; mas a cultura vem, cada vez mais, demonstrando seu potencial e seu valor para a sociedade.
A Economia da Cultura foi um termo usado pela primeira vez em 1965 e deixa de fora a dimensão econômica, sendo manifestações culturais e produções simbólicas sem fins comerciais ou que não têm escala de inserção no mercado. Podemos considerar a indústria cultural, indústrias criativas, e a economia criativa como subconjuntos das atividades culturais.
Ana Carla Fonseca Reis, conferencista internacional em economia da cultura, economia criativa e cultura e desenvolvimento, define:
“Economia da cultura é a utilização metodológica dos instrumentos e do aprendizado da economia a favor da cultura. O que significa que se trabalha a cultura de forma diferente do ponto de vista antropológico, por exemplo. É claro que existem várias manifestações e expressões culturais que efetivamente acabam não tendo impacto no mercado. O que a economia da cultura faz é colocar a favor da cultura todo o instrumental teórico da primeira para que, uma vez definido o que queremos de uma política de cultura, encontremos o melhor caminho para chegar lá. O que sobra disso é que se a gente não tiver uma política cultural bastante clara, não adianta nada falar em economia da cultura. A economia da cultura não diz como a política será, mas sim como melhor tratar determinada política.” (SECRGS, 2012)
A Economia Criativa apareceu em 1980 na Austrália, mas em 1997 o Reino Unido que passou a utilizar mais esse termo quando Tony Blair assumiu como Primeiro-Ministro e identificou treze setores (publicidade, arquitetura, editorial, rádio e TV, design, cinema, música, serviços de software e computador, jogos de computador, design de moda, artesanato, artes performáticas e mercado de artes e antiguidade) que poderiam reerguer a economia nacional, chamando-as “indústrias criativas” (sendo que o termo “indústria”, em economia, refere-se a um setor econômico) (The Guardian, 2007).
Paulo Miguez, Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, em entrevista dada ao PrimaPagina no ano de 2005, quando questionado se existe diferença entre os termos Economia da Cultura, Economia Criativa, e Indústrias Criativas admitiu não perceber muita diferença, sobretudo, “do ponto de vista da lógica de uma indústria cultural, que é a transformação de um bem cultural em mercadoria”. (MACHADO, 2007)
Até 2011, o escopo dos setores contemplados pelas políticas públicas do MinC se restringia àqueles de natureza tipicamente cultural (patrimônio, expressões culturais, artes de espetáculo, audiovisual e livro, leitura e literatura). Então esse escopo foi ampliado, contemplando também setores de base cultural, com um viés de aplicabilidade funcional (moda, design, arquitetura, artesanato), conforme figura acima, que representa o escopo dos setores criativos, segundo o Ministério da Cultura (2011).
Hoje definimos a Economia Criativa como o conjunto de atividades econômicas relacionadas à produção e distribuição de bens e serviços que utilizam a criatividade e as habilidades dos indivíduos ou grupos como insumos primários. Isso entra como um caminho que serve para ampliar os ganhos com uso da criatividade, conhecimento, e desenvolvimento tecnológico. A incorporação da criatividade ao produto e o aperfeiçoamento tecnológico fazem aumentar a produtividade do trabalho e o valor das mercadorias.
Fontes:
FERREIRA, Juca; MINISTÉRIO DA CULTURA. A economia da cultura e o desenvolvimento do Brasil. 2015. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_publisher/OiKX3xlR9iTn/content/id/1277347>. Acesso em 03 de Outubro de 2016
LOPES, Ruy Sardinha; SANTOS Verlane Aragão. Economia, cultura e criatividade: tensões e contradições. 2011. Disponível em: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Economia-cultura-e-criatividade-tensoes-e-contradicoes-%0D%0A/12/16464>. Acesso em 30 de Setembro de 2016.
MACHADO, Rosi Marques. Da indústria cultural à economia criativa. Rio de Janeiro. 2007.
MINISTÉRIO DA CULTURA. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações. 2011 à 2014. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/documents/10913/636523/PLANO+DA+SECRETARIA+DA+
ECONOMIA+CRIATIVA/81dd57b6-e43b-43ec-93cf-2a29be1dd071>. Acesso em 05 de Outubro de 2016.
REIS, Ana Carla Fonseca. Economia da Cultura ou Economia Criativa? Pondo os pingos nos is. 2007. Disponível em: <http://www.culturaemercado.com.br/site/pontos-de-vista/economia-da-cultura-ou-economia-criativa-pondo-os-pingos-nos-is/>. Acesso em 30 de Setembro de 2016.
ROBINSON James. Creative industry ‘as important to Britain as finance’. 2007. Disponível em: <https://www.theguardian.com/business/2007/jun/24/politicsandthearts.politics>. Acesso em 05 de Outubro de 2016.
SECRGS – SECRETARIA DA CULTURA DO RIO GRANDE DO SUL. Economia da cultura: Entrevista com Ana Carla Fonseca Reis, 2012. Disponível em: <http://www.cultura.rs.gov.br/v2/2012/01/economia-da-cultura-entrevista-com-ana-carla-fonseca-reis/>. Acesso em 27 de setembro de 2016.
YODA, Carlos Gustavo. INDÚSTRIA CULTURAL. Estudo econômico da cultura é fundamental para elaboração de políticas públicas. 2007. Disponível em: <http://economiadacultura.blogspot.com.br/2007/06/indstria-cultural.html>. Acesso em 03 de Outubro de 2016.